quarta-feira, 22 de julho de 2009

Morena infinita

As nuvens brancas dos céus da Bahia me levaram às lembranças dela, memórias constituídas de fatos e alucinações, descargas de luz desprovidas de matéria ou ordem, ricocheteando sem tréguas na minha alma. Digo a mim mesmo Ela é irmã dessas nuvens, sua ternura sempre imóvel e intangível, movendo-se intocada pelas alturas dos meus sonhos, onde meus desejos a observam, ansiosos como crianças à espera da mãe. Anulo meus conflitos na sua tranquilidade; descubro-me incapaz de divisar seu rosto, vejo somente pontos brancos espalhados pelo azul escuro do crepúsculo, agora ela já se assemelha a uma estrela, e brilha mais, tento senti-la, mas ela desliza pelos meus dedos, como se fôssemos feitos de matérias distintas, como se vivêssemos em dimensões ou tempos inconciliáveis. Não é ela quem amo, eu penso, amo a sua impossibilidade, amo a ternura que eu nunca terei. É fácil amar quem nunca irá te abandonar, ela diz, sem me olhar. Penso então que mesmo as nuvens têm fim, elas se partem em gotas e seguem sozinhas rumo à morte na terra.

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