segunda-feira, 13 de julho de 2009

Escrever

Escrever dói. Dói escrever, quando se escreve de verdade. Escrever com as entranhas, não com as palavras, despindo a linguagem das suas bobagens, das suas mentiras: escrever sem camisinha. Escrever assim consiste num exercício de solidão e de agonia e de coragem. Precisa-se extrair, a exemplo de como se arranca um dente podre, toda a verdade do seu ser, por mais banal e constrangedora que essa verdade pode parecer. Não por capricho - por mera necessidade.

São inúteis os textos que, pouco interessa em qual formato venham ou sobre qual assunto versem, apresentam gordas camadas de mentiras, vestígios linguísticos do ego tirano, defesas obtusas do eu contra seus medos, suas imperfeições. Esses muros infantis erguem-se normalmente por meio da banalização do deboche irônico e da ridicularização fácil de tudo, no caso dos homens, ou no abuso da metáfora vazia, no caso das mulheres - a metáfora que serve à ocultação do sentimento e do significado real das coisas; palavras pobres para esconder outras palavras pobres.

Por óbvio, é impossível despojar-se completamente da vaidade no ato de escrever. Mas o alcance do sucesso na tentativa talvez seja a medida da qualidade do que foi escrito. Mesmo expulsa, contudo, a vaidade volta a vencer, ela sempre vence, golpeando com a severidade do julgamento crítico o que já não mais lhe pertence.

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