quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sofia

A personalidade de Sofia resultara do embate silencioso entre duas dimensões antagônicas de uma alma irriquieta. Nos bons momentos, prevalecia a mulher determinada, constantemente em busca de desafios e possibilidades, manifestada no sorriso caprichoso e nas ações voluntariosas -- eis a Sofia que ignorou os bons conselhos da mãe e abandonou tudo por Nova York. Quando este espírito que se julgava livre fraquejava ante os murros do destino, emergia a insegurança da menina à espera de ternura e poesia -- eis a Sofia que cobrava colo de Nova York. Sua beleza cintilante, revelada pela fragilidade de um rosto emoldurado pelo suave desenho de traços delicadamente irretocáveis, favorecia o reconhecimento da menina. A mulher, por sua vez, escondia-se nos subterrâneos de uma vaidade absoluta, encerrada sob a cortina de seus cítricos olhos de chocolate. Aos 26 anos, ela pressentia que se aproximava o momento definitivo e inadiável, aquele no qual uma das duas sairia vencedora. Seriam seus sonhos engolidos por esta nova persona? Seriam suas escolhas futuras demasiado limitadas? Sofia temia esse desenlace. Mas nada, àquela altura, parecia tão necessário, tão urgente. Era preciso respirar novamente. Era preciso recomeçar.

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