quinta-feira, 25 de junho de 2009

Sensações

Texto de 2004:

"O meu humor anda meio azedo com algumas coisas. As pessoas daqui, por exemplo, sofrem no fervilhão dos meus pensamentos. Estou de mal com Brasília. O pôr do sol que vi agora há pouco foi soberbo, de cores intensas. Tem sido assim nos últimos dias: um espetáculo no final da tarde. Mas as pinturas que me impressionam à tardinha se contrapõem aos tons de cinza que eu vejo nas pessoas. Acho a maioria delas sem graça, medíocres mesmo.

Tenho pensado muito sobre isso. Não cheguei a grandes conclusões, mas percebi que essa sensação se deve muito à falta de paixão delas. Quando digo paixão, não estou fazendo uma conexão necessária com o amor romântico, que é a faceta mais visível desse tipo de sentimento. A pessoa não precisa necessariamente ter paixão por alguém, mas deve amar alguma coisa. Os olhos brilham. Pode ser uma profissão, um ofício, um hobby ou uma ambição. Se não houver paixão, do que adianta tudo isso? Virar estatística, assistir novela,
ficar na internet? Tem que haver mais na vida do que essa coisa mais ou menos. "Navegar é preciso, viver não é preciso", resumiu o poeta.

Na verdade, essa mediocridade me incomoda desde pequeno. É um sentimento perigoso, que pode descambar para a prepotência e o desprezo pelos outros. Mas me obriga a ficar alerta - e a admirar ainda mais quem vive com intensidade. Eu amo minha profissão, meus amigos, minhas músicas, meus filmes, minhas namoradas, minhas festas, meu mundo. Amo o pôr do sol que eu admiro todo dia. E por isso sou feliz."

Relendo esse desabafo agora, anos depois, percebo, além da juvenil fantasia de autorrealização, a resiliência dos sentimentos que me empurraram rumo aonde estou. O tempo cumpriu seu termo com competência, num ritmo de sombras e falsos compassos, pelo qual essas sensações escorreram furtivamente. Continuam aqui, frescas.

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