domingo, 9 de maio de 2010

As Estrelas Imóveis

As estrelas permaneceram imóveis no torpor da noite, e tudo porque ele percebeu que o abandono é o mais perto que se pode chegar da morte sem tocá-la.

Enquanto ela se afastava na escuridão úmida de São Paulo, ele contemplava a própria finitude no encontro com a ausência dela, na impossibilidade da real união entre duas almas, na impossibilidade de converter luz em matéria, espaço em tempo, raiva em amor; na impossibilidade do infinito.

Ele queria alcançar o silêncio dela, e dizer Aproxime seu desejo do meu, acaricie sua dor na minha, vamos misturar nossas ilusões, antes que o passado roube o que é só nosso, antes que o gosto da sua boca dilua-se na escuridão, antes que essas sensações dobrem-se ao porvir, e a verdade da vida perca-se na memória de nossos breves dias.

Então ele quis pedir novamente Entregue seu medo ao meu, sim, eu cuidarei dele, sem tentar amansá-lo com doces mentiras, ele estará conosco sempre que nossos sorrisos participarem um do outro.

E tudo porque o abandono trouxe o frio da morte antes que o tempo permitisse, e o caos da vida foi incapaz de expulsar o vazio, o vazio das estrelas imóveis na noite em que ela partiu.

Um comentário:

  1. que-bo-ni-to.
    muito mesmo.
    como você me disse há muito tempo sobre um post sobre o tango (nossa, há quanto tempo!), te repito: é por aí.
    beijo, querido.

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