sábado, 8 de agosto de 2009

Pontapé no cinismo

Gostei do texto. Não sei quem é o autor. Quem será?

Confira:

"Eis que, pouco depois de completar 185 anos de vida, o Senado está agonizando dolorosamente, ao vivo e em cores, sob a apatia de nossos olhos resignados. O triste espetáculo que vimos nos últimos dias configura-se no prenúncio de dias ainda mais tenebrosos, que certamente se sucederão até que um pontapé no oligarca José Sarney se torne inevitável.

O Senado, assim como qualquer instituição, mede-se pelo tamanho dos homens que lá estão. São homens que fizeram o Senado ser o que sempre foi - uma Casa de exímios oradores e qualificados debates, que norteava a discussão dos caminhos a serem trilhados pelo país.

Hoje, são homens, pequenos homens, homens de baixos princípios e qualificações, que fazem o Senado ser o que é: uma instituição falida e corrupta, que custa 2 bilhões de reais aos nossos bolsos e não contribui em nada para amenizar os problemas arcaicos que ainda persistem no país.

Ganha um cargo comissionado no gabinete de Sarney quem se lembrar de algum projeto de relevância aprovado recentemente pelo Senado. Ou de algum debate profundo acerca de... bem, de qualquer coisa. Não há, nas palavras vazias e pobres que ecoam dos homens que se revezam a todo momento na tribuna do Senado, qualquer réstia de preocupação com os destinos de todos nós.

Educação? Violência? Saúde? Esqueça. Sobrou somente a pequena política, a politicagem dos interesses comezinhos e endinheirados, interesses personificados em figuras como José Sarney, Fernando Collor, Renan Calheiros, Romero Jucá - políticos cujos currículos brilham pelo acúmulo de malfeitorias e pelo vazio de ideias. Seus nomes entrarão na história pela porta dos fundos.

Mas há outros homens no Senado. Eles somam 81. Há os poucos que ousam se insurgir contra a turma da pistolagem, como os senadores Cristovam Buarque e Pedro Simon, mas que o fazem com tal tibieza que suas palavras lhe escapam pálidas e frágeis - e eles se apequenam junto com elas, do alto da tribuna de onde falam, falam e falam... Falam como se estivessem pedindo desculpas por sugerir o afastamento do chefe.

Mesmo o senador Arthur Virgílio, que tem se esforçado para liderar uma solitária reação dos bons costumes, mostra-se um homem de traços gentis, de excessiva lhaneza, assim que fica à frente de Sarney e seus camaradas. Sua paga veio pelas mordidas dos cães que protegem a casa grande.

Há, por fim, a maioria, os que dormem nas sombras do poder, os que são mais discretos em sua mediocridade, aqueles que assistem em silêncio à fogueira na qual arde o Senado. Onde estão as vozes de homens como Marco Maciel e Jarbas Vasconcelos, políticos experientes e ciosos da grandeza institucional do Congresso na nossa democracia? O que fazem no momento em que mais precisamos deles? Por que não os vemos apartar nenhum desses senhores no plenário, dizendo-lhes o que tantos de nós queremos dizer? Que razões comezinhas poderão nos apresentar no futuro, como justificativa para tamanha covardia? O que dirão aos seus filhos e eleitores petistas como Aloízio Mercadante e Eduardo Suplicy?

E no entanto somos, todos nós - senadores ou deputados, homens de governo ou de oposição, empresários ou trabalhores, eleitores ou eleitos - um só povo, unidos por nossa herança comum, definidos por nossas virtudes e, sobretudo, por nossos defeitos. Podemos fracassar como indivíduos - mas nunca como nação. O fracasso de José Sarney como político não pode representar a derrota do Senado como instituição. O Senado é maior do que José Sarney.

É maior porque pertence a todos nós, porque deve servir a nós - e não a eles, os piratas do Congresso.

Chegará o dia em que Sarney, Renan, Collor e as demais figuras de má qualidade que ali estão, assim como nós, com todas nossas virtudes e nossos defeitos, não estarão mais aqui. Mas nossos filhos estarão. Ou nossos netos. Se não por nós, é por eles que devemos salvar o Senado. É aos interesses deles que o Senado servirá amanhã. Isso só acontecerá se nós, como povo, neste momento crítico de nossa história, tivermos a força para nos levantarmos contra os oligarcas que tomaram o Senado de assalto.

Protestos virtuais não são suficientes. Senadores não têm medo de Twitter, blogues ou passeatas na internet: senadores têm medo de povo nas ruas. Por isso, o único modo de conseguirmos que eles ouçam nossos vozes, escutem nossas exigências e finalmente cedam aos nossos propósitos é por meio de um grito que alcance seus ouvidos - um grito forte e inequívoco, que parta em uníssono dos gramados da Esplanada dos Ministérios e rompa as vidraças do Congresso.

Até que isso aconteça, não nos iludamos, nada vai mudar. Nada.

É chegada a hora, portanto, de pararmos com os resmungos preguiçosos e os muxoxos confortáveis, essas reclamações cínicas que nos dão a estranha sensação de dever cumprido e, nós sabemos, não resolvem nada. Não: é hora de agir. Ou então calar de vez.

Pois este é o nosso tempo, este é o nosso mundo - e retomar o Senado é o desafio que se impõe agora a todos nós."

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Conexões perdidas

Aeroportos são lugares solitários, ele pensava, enquanto seus olhos percorriam preguiçosamente o lento ir-e-vir dos passageiros na sala de embarque, uns para lá, outros para cá, andorinhas flanando de asas abertas, ansiosas em seguir viagem rumo ao mistério de suas vidas. Não se detinha em ninguém em particular; seus olhos contentavam-se em acompanhar os gestos e barulhos que constituíam aquele momento. Aeroportos são como o limbo do mundo moderno, sim, talvez seja isso, almas no suspense do porvir, em trânsito para o quê, para quê, aqui não há ninguém, ninguém está aqui, é aqui que se concentra toda a expectativa de que algo aconteça - não agora, mas daqui a pouco. Quando eu chegar. Quando eu voltar. Quando eu partir.

domingo, 2 de agosto de 2009

Nelson

Recém-chegado do mato, ainda sonolento e cansado, limito-me a deixar aqui quem melhor fala com as mãos, numa arenga que ressoa com força no espírito de domingo: